Já aqui abordei os potenciais efeitos adversos da suplementação com antioxidantes que se tornou moda na hoje em dial. Investigadores do Institutet Karolinska, na Suécia, dão mais um contributo com a descoberta recente de uma nova função dos radicais livres na fisiologia cardíaca.
Perante um stress, o corpo reage libertando catecolaminas, agonistas beta-adrenérgicos que estimulam a actividade cardíaca de forma a satisfazer as necessidades acrescidas dos tecidos. Como diria Robert Sapolsky, trata-se de um mecanismo de auto-defesa ancestral que assegura uma resposta rápida a um evento stressante. A equipa verificou que a activação dos receptores beta-adrenérgicos induz um aumento na produção de radicais livres nas mitocôndrias das células musculares cardíacas e que esses mesmos radicais são essenciais para uma regulação normal da força de contracção. A exposição dessas células a antioxidantes inibiu significativamente o efeito das catecolaminas na produção de força contráctil. Como em praticamente tudo na vida, é mais um caso em que a dose faz o veneno e em que a moderação é desejada e necessária. Os radicais livres são imprescindíveis para uma actividade celular normal, mas em níveis crónicos são potencialmente deletérios. O controlo da produção de força no miocárdio e a sensibilidade à insulina são apenas dois mecanismos que já se sabem controlados pelo correcto balanço dos radicais livres. Estou certo de que muitos mais serão descobertos num futuro próximo. Infelizmente, a suplementação inconsciente com antioxidantes não é selectiva e pode de facto inibir processos biológicos importantes. Pense nisso da próxima vez que tomar as bombas cavalares de vitamina C, E e outros antioxidantes comuns no mercado de suplementos alimentares. Em vez de acrescentar uns anos à sua vida, o tiro pode sair pela culatra.
Sérgio Veloso (Jekyll)
Daniel C Andersson, Jérémy Fauconnier, Takashi Yamada, Alain Lacampagne, Shi-Jin Zhang, Abram Katz & Håkan Westerblad. Mitochondrial production of reactive oxygen species contributes to the beta-adrenergic stimulation of mouse cardiomycytes. The Journal of Physiology, 28 February 2011 DOI:10.1113/jphysiol.2010.202838
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